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Preço do Ouro Sofre Correção Severa: Fim do Rali ou Tomada de Mais-Valias?

Uma Correção Severa Após Novos Máximos

Depois de atingir recordes consecutivos este ano, o preço do ouro sofreu uma queda abrupta, perdendo mais de 300 dólares em apenas dois dias. Esta descida acentuada levanta questões sobre a sustentabilidade da tendência de subida a longo prazo. Embora o ouro seja frequentemente visto como um investimento seguro, essa perceção é apenas parcialmente verdadeira. Se por um lado não se teme uma perda total de valor – algo teoricamente possível com moedas ou títulos – visto que o metal precioso nunca foi inútil ao longo de milénios, por outro lado está, de facto, sujeito a fortes flutuações.

A recente volatilidade é um exemplo claro. A “febre do ouro” nos mercados financeiros desapareceu subitamente na terça-feira. Após seis dias consecutivos de ganhos, que levaram o preço para perto do máximo histórico de 4.366 dólares (equivalente a 3.769 euros), seguiu-se uma queda profunda. Desde então, o metal precioso desvalorizou mais de 300 dólares, sendo que na tarde de quarta-feira a onça troy (onça fina) era negociada a apenas 4.020 dólares. Isto representa uma perda de quase nove por cento em apenas dois dias de negociação.

Sinais de Desanuviamento Comercial e Dólar Forte Pressionam Ouro

Mas o que desencadeou esta venda massiva? Os especialistas da corretora britânica Activtrades justificam as perdas recentes com sinais mais positivos vindos de Washington relativamente ao conflito comercial com a China. A perspetiva de um eventual acordo no próximo encontro entre os presidentes Donald Trump e Xi Jinping na Coreia do Sul reduziu o apelo do ouro como “metal de refúgio” em tempos de crise. A prata também foi arrastada por esta onda descendente, corrigindo fortemente de um recorde de 54 dólares para pouco mais de 48 dólares por onça.

O que também penalizou os metais preciosos foi o recente fortalecimento do dólar, que tinha perdido valor significativamente este ano. Uma moeda norte-americana forte afeta o mercado do ouro, pois torna o metal, negociado em dólares, mais caro noutras zonas monetárias.

Analistas Veem Queda como Tomada de Mais-Valias

Estará a longa tendência de subida, que dura há três anos, quebrada? Os especialistas da Activtrades acreditam que não: “O caminho de menor resistência parece continuar a ser ascendente, já que os investidores continuam a ver as quedas de preço como oportunidades de compra.”

Outros analistas também veem esta correção severa principalmente como uma tomada de mais-valias. “Face às muitas compras recentes, os investidores começaram finalmente a realizar lucros após a subida recorde”, afirma Fawad Razaqzada, da StoneX. Segundo ele, é “demasiado cedo para declarar o fim da tendência geral de subida”. Esta tendência foi alimentada nos últimos meses por vários fatores, incluindo tensões geopolíticas como os conflitos na Ucrânia e na Faixa de Gaza, disputas comerciais latentes e a paralisação de agências governamentais nos EUA (o “Government Shutdown”). Recentemente, feriados religiosos na Índia também aumentaram a procura por ouro físico, a que se somam as compras estratégicas de longo prazo por bancos centrais de países emergentes, que têm vindo a aumentar notavelmente as suas reservas desde o congelamento dos ativos russos.

A Metáfora do “Elástico Esticado”

Após a forte correção, o ouro estabilizou ligeiramente na quinta-feira, cotando nos 4.122 dólares. No entanto, segundo a Bloomberg, os fundos negociados em bolsa (ETFs) garantidos por ouro registaram na quarta-feira a maior saída diária de capital desde maio.

Observadores do mercado falam de uma “limpeza” necessária após uma subida que impulsionou o preço em mais de 65% desde o início do ano. Keith Lerner, estratega-chefe da Truist Advisory Services, vê a evolução como um sinal de alerta: “Não houve um único gatilho para a venda; o ritmo recente da subida do ouro tinha-se desenvolvido a uma velocidade insustentável, tornando-o vulnerável a uma forte inversão.” Lerner lembra que os preços estavam recentemente mais de 30% acima da média móvel de 200 dias – o maior desvio desde 2006. “Tal como um elástico que é esticado demasiado, o recuo acaba por ser violento”, disse. Tais quedas, superiores a cinco por cento num dia, são historicamente raras e “muitas vezes um sinal de exaustão do mercado e o início de uma fase de correção”.

Fundamentos de Longo Prazo Permanecem Sólidos

Apesar disso, a Truist considera que os motores estruturais da subida permanecem intactos. Os analistas apontam para a continuação das compras pelos bancos centrais, os riscos geopolíticos e os receios de desvalorização monetária (o chamado “debasement trade”). “Estruturalmente, permanecemos positivos. O papel do ouro como diversificador e porto seguro permanece intacto.”

Hebe Chen, da Vantage Global Prime, também falou de uma “correção técnica” após uma “subida exagerada” e usou a mesma metáfora do elástico. Fatores fundamentais, como a fuga para ativos tangíveis, mantêm-se. Com um ganho anual de cerca de 55%, o ouro, apesar da fraqueza recente, continua a ser a matéria-prima com melhor desempenho do ano. Os investidores procuram agora proteger-se através de opções, enquanto o mercado aguarda o próximo encontro entre Trump e Xi – um possível sinal de desanuviamento que poderá, a curto prazo, aliviar a pressão sobre o preço do ouro.

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Do dinheiro físico ao investimento digital: A nova moeda de Portugal e o “hype” das contas infantis na Alemanha

O panorama financeiro europeu apresenta diferentes focos. Enquanto em Portugal se assiste à emissão de nova moeda física de coleção, na Alemanha a tendência crescente é a acumulação de património digital para crianças desde o berçário.

Portugal: “Ulisses” entra em circulação

O Banco de Portugal anunciou a emissão de uma nova moeda de coleção com o valor facial de cinco euros. Intitulada “Ulisses”, a moeda entrou em circulação no passado dia 17 de julho. Conforme o comunicado da entidade emissora, esta nova moeda tem poder liberatório, embora a sua aceitação esteja restrita apenas ao território nacional.

O desenho da peça é profundamente simbólico, evocando a fundação mítica de Lisboa. No anverso, apresenta a figura de Ulisses amarrado ao mastro de uma embarcação, ladeado pelo escudo nacional e pelo valor facial, e rodeado por sete sereias com corpo de ave.

No reverso, Ulisses surge novamente, desta vez em posição de defesa, armado com arco e flecha. Ao centro, uma serpente descreve sete curvas com o seu corpo, numa alusão às sete colinas de Lisboa. A orla da moeda intercala a representação estilizada de ondas do mar com as legendas “Ulisses”, “Portugal”, “Casa da Moeda” e a identificação do autor.

Alemanha: O fenómeno dos “Kinderdepots”

Enquanto Portugal valoriza a moeda física, na Alemanha vive-se um “hype” em torno dos “Kinderdepots”, ou contas de investimento para crianças. Muitos pais procuram começar a construir o património dos seus filhos o mais cedo possível. As “neocorretoras” (neobrokers), como a Trade Republic ou a Scalable Capital, estão a lançar produtos específicos para responder a esta procura.

O plano de poupança de Theodor

O caso de Theodor, um bebé de quatro meses de Berlim, exemplifica esta tendência. Theodor ainda não tem dentes, mas já possui uma conta de investimento (depot). Os seus pais, Nora e Dominik Bath, transferem mensalmente 100 euros para uma conta na corretora online Comdirect.

Poucas semanas após o nascimento, o jovem casal estabeleceu dois planos de poupança em ETF (fundos de índice) para o filho, incluindo um que replica o conhecido índice mundial MSCI World. Além disso, Theodor já é acionista da empresa de bens de consumo Procter & Gamble (fabricante das fraldas Pampers).

“Era importante para nós apoiá-lo na construção de património o mais cedo possível”, afirma Dominik Bath. Esta tendência é alimentada pela perspetiva de que, a longo prazo, um investimento mensal de 100 euros possa transformar-se em mais de 40.000 euros, assegurando o futuro financeiro da criança.